segunda-feira, 5 de setembro de 2011

De Que Banda é Minha Umbanda?



            Esta é uma reflexão de caráter pessoal, que tem como base conceitos encontrados na literatura umbandista de modo geral. 

 
                A Umbanda é uma religião de cunho espiritualista, que crê na existência dos espíritos e do mundo espiritual, que se manifestam pelos médiuns, ou mediadores. Seus praticantes e entidades espirituais trabalham com manipulações magísticas, com utilização de elementos ou instrumentos místicos.
            Há que se entender antes de qualquer consideração que a Umbanda é composta por elementos Divinos, Doutrinários, Filosóficos, Rituais, Místicos, Divinatórios e Humanos. Agrega elementos de bases africanas, indígenas, orientais e judaico-cristãs. Estes elementos podem ser vistos com mais ou menos intensidade de acordo com a linha doutrinária da casa (linhas doutrinarias ou escolas doutrinarias), o que torna esta uma religião aberta, com inúmeras diferenças de interpretação. Diferenças estas que podem variar regionalmente ou até mesmo de terreiro para terreiro.
            Dentro deste panorama diversificado, sempre cabe a pergunta: de banda é minha umbanda? Popular, tradicional, esotérica, africanista, umbandoblé, de caboclos, de preto-velhos, etc?
            Ao aprofundar meus estudos na esfera Umbandista e espiritualista de modo geral, logo me deparei com estas várias formas de professamento e pratica da Umbanda. Ao primeiro momento me dediquei ao estudo e entendimento dessas “classes” que me foram apresentadas em diversos livros e textos com os quais foi tendo contato, e logo me perguntei: Em qual dessas “realidades” me encaixo como Umbandista? Que tipo de Umbanda é praticado no meu terreiro? Onde estou inserido como médium neste Universo? E as entidades que trabalham comigo de que “linha” elas seriam?... Durante um tempo estas questões ficaram latentes em minha mente.
            Bom, sou Biologo de formação, e durante meu curso entrei em contato com diversas ciências, e dentro de todas elas existem classificações. Na área de biológicas existe uma ciência conhecida como Taxonomia Sistemática, que se dedica a inventariar e descrever a biodiversidade e compreender as relações filogenéticas entre os organismos. Fato é, que muitas das classificações taxonômicas que existiram, por muito tempo, foram as morfológicas. Eram analisados padrões morfológicos entre as espécies e estas agrupadas de acordo com suas diferenças ou semelhanças. Com adventos tecnológicos mais modernos, estes “padrões” mais generalistas foram caindo em desuso, ganhando lugar a classificação e agrupamento, levando em conta características mais intrínsecas, como as de bases genéticas. Depois dos avanços nesta área, surgem quase que diariamente, varias propostas de redefinição de termos biológicos largamente aceitos, como filo, classe, espécie e população. Vários organismos entram e saem de diferentes classes, de acordo com estudos cada vez mais aprimorados que são realizados. Assim sendo, já é amplamente aceito, que qualquer tipo de classificação é um meio do homem entender sistemas, que podem aparentar-se simples, mas que são amplamente complexos em estrutura e funcionalidade.
            Voltando aos questionamentos anteriores, depois de alguns estudos e reflexões, vi nas ditas “Escolas Umbandistas”, nada além do que um sistema de classificação, análogo a Sistematica no ramo das ciências. Não vejo problema algum em classificar, a classificação é necessária para se haver entendimento, questionamento, troca de informações e aprimoramento de conceitos. Porém acho extremamente prejudicial o rotulo, que cai como uma luva e engessa o pensamento. Neste sentido, percebi que questionamentos tais são de veras irrelevantes. Para que se preocupar com as diferentes formas, se na realidade, o que realmente importa é a Genética, o intrínseco, o que está onde os olhos não conseguem enxergar?
            “Não importa o terreiro, o que importa é a Umbanda.” A Umbanda que traz a mensagem de amor, de fraternidade, de caridade e de respeito. Não há porque segregar, devemos unir. A diversidade existe, e esta existe não só quando tratamos de Umbanda ou religião, é algo da natureza, do homem e da divina. Dentro de seus propósitos essa diversidade atinge seu objetivo: disseminar a mensagem da espiritualidade Maior, volver “o espírito para a caridade”.
            Cada um dentro do seu entendimento e da sua prática, devemos nos entender como Umbandistas, seguindo o preconizado em seu terreiro e respeitando o diverso. Acho que buscar o conhecimento é essencial, mas não nos fechemos em nossas ataduras, que nos engessam, nos rotulam e estagnam. Acho que devemos classificar, agrupar, desclassificar, desagrupar, reagrupar, mas dentro da minha humilde percepção, não devemos nos esquecer da essência, da profundidade, afinal somos todos, entidades, médiuns, dirigentes, assistentes, espíritos em constante evolução.

“Quando se vê um preto velho sentado em seu banquinho, pitando seu cachimbo e falando errado, ali vemos a Umbanda,
quando se escuta o som dos ataques, das palmas ou a simplicidade das corimbas ou mantras, ali vemos Umbanda,
quando vemos as imagens no altar ou orixás em nossos corações, ali vemos Umbanda,
quando sentimos o cheiro das ervas e vemos o colorido das flores, ali vemos Umbanda,
onde se vê a Humildade ali vemos Umbanda,
onde vemos amor, ali vemos Umbanda.
Vemos Umbanda de forma esotérica, africanista, tradicional, enfim de várias formas, mas será que realmente estamos prontos para “ver” UMbanda?”

“Deve-se respeitar as várias formas de expressão da Umbanda. O mais certo é aquele onde a humildade é a guia infalível para os filhos não caírem na presunção, vaidade e prepotência.” (Pai Firmino do Congo – 07/06/07)

Algumas das muitas refêrencias para o assunto:
“união e respeito a diversidade”. Paulo C.L. Vicente. http://www.ftu.org.br/
“Umbanda e Universalismo”. Lista da Choupana Caboclo Pery – Porto Alegre
“Umbanda – Mitos e Realidade” – Yassan Ayporê Pery
“Umbanda Pé no chão” – Ramatís
“Umbanda sem medo” – Claudio Zeus

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