Esta
é uma reflexão de caráter pessoal, que tem como base conceitos encontrados na
literatura umbandista de modo geral.
A Umbanda é uma
religião de cunho espiritualista, que crê na existência dos espíritos e do
mundo espiritual, que se manifestam pelos médiuns, ou mediadores. Seus praticantes
e entidades espirituais trabalham com manipulações magísticas, com utilização
de elementos ou instrumentos místicos.
Há que se entender antes de qualquer
consideração que a Umbanda é composta por elementos Divinos, Doutrinários, Filosóficos,
Rituais, Místicos, Divinatórios e Humanos. Agrega elementos de bases africanas,
indígenas, orientais e judaico-cristãs. Estes elementos podem ser vistos com
mais ou menos intensidade de acordo com a linha doutrinária da casa (linhas
doutrinarias ou escolas doutrinarias), o que torna esta uma religião aberta,
com inúmeras diferenças de interpretação. Diferenças estas que podem variar
regionalmente ou até mesmo de terreiro para terreiro.
Dentro
deste panorama diversificado, sempre cabe a pergunta: de banda é minha umbanda?
Popular, tradicional, esotérica, africanista, umbandoblé, de caboclos, de preto-velhos,
etc?
Ao aprofundar meus estudos na esfera
Umbandista e espiritualista de modo geral, logo me deparei com estas várias
formas de professamento e pratica da Umbanda. Ao primeiro momento me dediquei
ao estudo e entendimento dessas “classes” que me foram apresentadas em diversos
livros e textos com os quais foi tendo contato, e logo me perguntei: Em qual dessas “realidades” me encaixo como
Umbandista? Que tipo de Umbanda é praticado no meu terreiro? Onde estou
inserido como médium neste Universo? E as entidades que trabalham comigo de que
“linha” elas seriam?... Durante um tempo estas questões ficaram latentes em
minha mente.
Bom, sou Biologo de formação, e
durante meu curso entrei em contato com diversas ciências, e dentro de todas
elas existem classificações. Na área de biológicas existe uma ciência conhecida
como Taxonomia Sistemática, que se dedica a inventariar e descrever a
biodiversidade e compreender as relações filogenéticas entre os organismos. Fato
é, que muitas das classificações taxonômicas que existiram, por muito tempo,
foram as morfológicas. Eram analisados padrões morfológicos entre as espécies e
estas agrupadas de acordo com suas diferenças ou semelhanças. Com adventos tecnológicos
mais modernos, estes “padrões” mais generalistas foram caindo em desuso,
ganhando lugar a classificação e agrupamento, levando em conta características mais
intrínsecas, como as de bases genéticas. Depois dos avanços nesta área, surgem
quase que diariamente, varias propostas de redefinição de termos biológicos largamente
aceitos, como filo, classe, espécie e população. Vários organismos entram e
saem de diferentes classes, de acordo com estudos cada vez mais aprimorados que
são realizados. Assim sendo, já é amplamente aceito, que qualquer tipo de classificação
é um meio do homem entender sistemas, que podem aparentar-se simples, mas que
são amplamente complexos em estrutura e funcionalidade.
Voltando aos questionamentos
anteriores, depois de alguns estudos e reflexões, vi nas ditas “Escolas
Umbandistas”, nada além do que um sistema de classificação, análogo a
Sistematica no ramo das ciências. Não vejo problema algum em classificar, a
classificação é necessária para se haver entendimento, questionamento, troca de
informações e aprimoramento de conceitos. Porém acho extremamente prejudicial o rotulo, que cai como uma luva e
engessa o pensamento. Neste sentido, percebi que questionamentos tais são de
veras irrelevantes. Para que se preocupar com as diferentes formas, se na realidade,
o que realmente importa é a Genética, o intrínseco, o que está onde os olhos
não conseguem enxergar?
“Não importa o terreiro, o que
importa é a Umbanda.” A Umbanda que traz a mensagem de amor, de fraternidade,
de caridade e de respeito. Não há porque segregar, devemos unir. A diversidade
existe, e esta existe não só quando tratamos de Umbanda ou religião, é algo da
natureza, do homem e da divina. Dentro de seus propósitos essa diversidade
atinge seu objetivo: disseminar a mensagem da espiritualidade Maior, volver “o espírito
para a caridade”.
Cada um dentro do seu entendimento e
da sua prática, devemos nos entender como Umbandistas, seguindo o preconizado
em seu terreiro e respeitando o diverso. Acho que buscar o conhecimento é
essencial, mas não nos fechemos em nossas ataduras, que nos engessam, nos
rotulam e estagnam. Acho que devemos classificar, agrupar, desclassificar,
desagrupar, reagrupar, mas dentro da minha humilde percepção, não devemos nos
esquecer da essência, da profundidade, afinal somos todos, entidades, médiuns,
dirigentes, assistentes, espíritos em constante evolução.
“Quando se vê um
preto velho sentado em seu banquinho, pitando seu cachimbo e falando errado,
ali vemos a Umbanda,
quando se escuta o
som dos ataques, das palmas ou a simplicidade das corimbas ou mantras, ali
vemos Umbanda,
quando vemos as
imagens no altar ou orixás em nossos corações, ali vemos Umbanda,
quando sentimos o
cheiro das ervas e vemos o colorido das flores, ali vemos Umbanda,
onde se vê a
Humildade ali vemos Umbanda,
onde vemos amor, ali
vemos Umbanda.
Vemos Umbanda de
forma esotérica, africanista, tradicional, enfim de várias formas, mas será que
realmente estamos prontos para “ver” UMbanda?”
“Deve-se respeitar as várias formas de expressão
da Umbanda. O mais certo é aquele onde a humildade é a guia infalível para os
filhos não caírem na presunção, vaidade e prepotência.” (Pai Firmino do Congo – 07/06/07)
Algumas das muitas refêrencias para o assunto:
“união e respeito a diversidade”. Paulo C.L. Vicente. http://www.ftu.org.br/
“Umbanda e Universalismo”. Lista da Choupana Caboclo Pery
– Porto Alegre
“Umbanda – Mitos e Realidade” – Yassan Ayporê Pery
“Umbanda Pé no chão” – Ramatís
“Umbanda sem medo” – Claudio Zeus